Livro Tudo por Nós, Sobre Nós! do TST tem relato de Oficiala de Justiça sobre a vivência de ser Pessoa com Deficiência na Justiça do Trabalho
O Tribunal Superior do Trabalho (TST) lançou, na última terça-feira (24), o livro “Tudo sobre Nós, Por Nós! Trajetórias e Vivências de Pessoas com Deficiência da Justiça do Trabalho”.
O material reúne relatos de magistrados e servidores, que contam suas histórias de vida e de atuação na Justiça do Trabalho enquanto Pessoas com Deficiência.
O lançamento aconteceu durante o seminário “Ativismos para a Luta Anticapacitista no Trabalho”, ocorrido na sede do TST, em Brasília. O debate teve como foco central provocar a reflexão sobre a importância e efetividade de ações que contemplem a acessibilidade e a inclusão das pessoas com Deficiência.
Entre os atores que integram o livro está a Oficiala de Justiça Maria Cristina Barbosa Mendes, de 40 anos, lotada no Tribunal Regional do Trabalho da 1ª Região (RJ). Servidora surda, Maria Cristina conta que perdeu a audição quando tive 6 anos, sem motivo aparente.
A Oficiala de Justiça conta que, ainda quando criança, ficava focada na boca das pessoas até a aprender a ler todo mundo “e isso foi muito interessante... Antes mesmo do ensino médio eu já praticava a leitura labial e a leitura dinâmica, como estratégias para preencher esses buracos de comunicação, sem nenhuma tecnologia de apoio”, completa.
Segundo a servidora, hoje, com o uso de aparelhos auditivos conectados com o celular e, com a ajuda de aplicativos de transcrição, ela consegue saber se uma criança está chorando ou um cachorro latindo. “Tudo isso é reconhecido pelo celular e a informação é transmitida por escrito”.
Enquanto Oficiala de Justiça, Maria Cristina conta que permanece em estado de alerta o tempo todo, “pela ausência de resposta do que está acontecendo ao meu redor. Já passei por situações graves em que não reconheci o perigo, com troca de tiros, gritos. Sendo Oficial de Justiça, isso é muito grave para a minha segurança”.
Ela também lembra que durante o cumprimento de um mandado de notificação, foi trancada no escritório pelo executado e, em outra situação, o sujeito soltou dois cachorros em cima dela. “Corri para dentro do carro, mas os cachorros chegaram a bater e arranhar meu carro”.
Além disso, a servidora lembra que, ao chegar para o exame médico do Tribunal foi questionada em como exerceria a função de Oficiala sendo surda. “Você vai apertar uma campainha, vai tocar o interfone e não vai escutar a pessoa te responder. Aí eu falei que o jeito era experimentar. Porque se isso acontecesse, se realmente eu não conseguisse exercer a função, eu seria a primeira pessoa a pedir para sair... Então nós descobrimos que existem outras tecnologias e a realidade das pessoas não é só o interfone”, indica.
“Li num texto da Rosa Luxemburgo em que ela falava que você só percebe as correntes que te prendem quando você se movimenta. Então todos os movimentos de que participo no Conselho Municipal, na universidade, na sociedade civil, em outros projetos, me fazem perceber. Quais são as necessidades? Qual é a minha possibilidade de participação ali? E isso para mim tem sido libertador. Acredito que é esse o caminho, nos sentirmos úteis e envolvidas com as coisas que realmente nos motivam”, finaliza Maria Cristina.
Da assessoria de imprensa, Caroline P. Colombo